Um cara fodido. A razão (algum parente morreu, é um nerd excluído, entrou uma farpa no dedo do pé) realmente não importa. O que vale é estar fodido ou, ao menos, aparentar estar. Incapaz de seguir sozinho e encarar seus próprios problemas, limita-se a demonstrar o quanto se identifica com letras do The Cure, ou qualquer banda de "cara fodido" congênere.
Até que aparece uma garota. Mas não pode ser uma simples garota. Além de bonita, ela tem que aparentar ser maluca. Uma maluca graciosa, daquelas que não são malucas de verdade, mas surpreendem o cara fodido com a realização de alguma conduta fora dos padrões. Contudo, não basta ser só bonita, maluca e graciosa - isso quase todas são - o mais importante é que a garota tem que ser uma psicóloga nata, e achar normal não receber quaisquer honorários. Seu papel se limita a salvar o cara fodido. Ela não tem outra razão para viver. Sem as pompas e glórias de super-heróis. A garota tem que trabalhar seus poderes paranormais na modéstia.
O final da história acaba sendo previsível. O cara não deixa de ser realmente fodido, mas tem uma garota para lhe lembrar que a vida é linda e ele, em favor da arte, deixa de ser fodido por breves momentos até a próxima crise existencial. Assim, tudo termina, mais uma vez, com algo malucadamente gracioso da garota que provoca a uma urgência física de tudo terminar num lindo beijo e os créditos começam a aparecer, junto de uma música bonita, dando tudo por resolvido.
Do outro lado, pegando a bolsa e saindo da sessão, a garota normal, sem graduação em psicologia, desastrada e talvez um pouco maluca, acha, em um primeiro momento, tudo lindo. O cara fodido é muito gato e, nossa, ele realmente parece amar bastante a garota, dá para ver pelos olhos dele.
"Own".
Passados os efeitos da música açucarada dos créditos, voltando a respirar o ar de fora do cinema, a realidade aparece em formato de cem palhaços rebolativos, cada um com placas em neon lembrando cada um de seus problemas. O que estava segurando a placa "falta de dinheiro" demonstrou-se especialmente empolgado, embalado na velocidade seis do créu, enquanto a garota cogitava comprar um ovomaltine.
"Ah, vá, fodida sou eu".