quarta-feira, 16 de março de 2011

Sem acordo, só amor.



Último ano de faculdade e as bombas começam a cair - adianto, nada delicadamente - sobre a sua cabeça. Ninguém estava esperando nenhuma moleza, mas a coisa está realmente dura. Além do óbvio como o TCC e a tortura (por mim tão pouco apreciada) das negociações da formatura, eu e todos os meus colegas de classe somos submetidos a um procedimento nada agradável, apesar de necessário para a graduação, chamado "Escritório Modelo". 
Digamos que a motivação desse projeto é digna. Ora, nada mais correto de que um bando de alunos de Direito aprendam a prática na faculdade. Galera passa quatro anos só falando bosta pelos corredores e tá  hora de sentar a bunda na cadeira e ouvir o problema de um monte de gente, fazer peças, conciliações e etc. Tudo muito digno. Mas (porque sempre existe um) quando a coisa sai do seu mundo das idéias e tu sente a primeira baforada quente do Forum a coisa muda totalmente de figura. Não chega a ser nada que afete minha dignidade de pessoa humana, ou que me cause grande aversão, só que é impossível não pensar em um "isso aqui poderia ser muito melhor" sequer. Mas (porque é possível existir mais um)  um "seguiremos firmes e fortes" consegue lhe encher até o suficiente daquelas mínimas forças reserva para encarar plantão atrás de plantão.
Apesar de todos esses percalços nessa longa caminhada, tem uma coisa que vem me divertindo bastante em toda essa experiência: os acordos. Tudo bem que nem sempre dá certo (tenta enfiar quatro sangue quentes para discutir uma dívida de energia), só que sempre tem aqueles que são super gratificantes. Primeiro porque acordo é bem diferente do mero atendimento, enquanto no primeiro a gente só ouve um lado da encrenca, no outro a gente ouve todo mundo e existem dois caminhos: ou você senta e chora de desespero diante da gritaria ou é só puro amor.
Hoje teve um que foi Amor com letra maiúscula. Seguinte: Fulano apareceu no atendimento dizendo que precisava se separar de Fulana, porque a querida disse que ele tinha um amante. Dava para ler perfeitamente na testa do coitado que ele não queria se separar e quando os dois chegaram hoje na porta da sala de acordo essa certeza apareceu em neon dançando sobre a cabeça de ambos.
Só que há um problema prático: eu não sou juíza, eu não posso decidir nada para ninguém. Então lá fui eu - entre choros e risos das partes - tentar resolver aquela briga de casal. Só que eu não conseguia não me envolver, perguntei mais de cinco vezes se eles não queriam voltar e recebia como resposta só olhares faceiros. O melhor momento foi o da assinatura do termo de acordo, quando eles demoram 10 minutos para assinar, com direito a "vai assinar mesmo, fulano?" super meigos.  Resultado: todo mundo saiu de lá com um acordo de divórcio no papel e a certeza (junto da minha torcida muito mais do que expressa) de que os dois vão se reconciliar.
E preciso dizer? Nesses momentos que eu acho que fiz a escolha certa naquela inscrição para o vestibular, apesar de noventa por cento do tempo restante me autoflagelar por esse mesmo motivo.