quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Talking to myself, that good old way to make me feel sane.

Bem, estou trabalhando - estagiando, que seja - na Defensoria Pública da União aqui na "minha" ingrata cidade. Estágio muito bom, ganho menos e recebo menores pompas do que o estágio antigo, mas - sem a tal síndrome de sempre glorificar o que agora se tem - trabalhar por lá é consideravelmente melhor. As pessoas são melhores. Melhores mesmo. Nada de nariz empinado ou frieza. Todo mundo muito acessível e divertido.

Mas isso não é a melhor parte de lá. A melhor parte é o atendimento. Sim, como órgão público responsável por atuar como advogado para as pessoas que não possuem renda para contratar um advogado, na diminutivamente chamada DPU, nós (digo, estagiários) somos responsáveis por, ao menos duas vezes na semana, atender as pessoas que lá aparecem com O problema. 

Ao contrário do EMAJ (estágio obrigatório da minha faculdade que possui, com diferenças pontuais, função semelhante à DPU) na Defensoria nos deparamos com uma verdadeira organização no procedimento, apesar de alguns considerarem tudo aqui uma tremenda burocracia. Mas não, levando em conta a sistemática do Direito Brasileiro atual, todos os requerimentos feitos pela Defensoria são essenciais. 

Então, estava lá minha pessoa no atendimento hoje. Logo na urgência, onde só chega a galera no auge do desespero. Para o bom ou para o ruim, não me chegou nenhum caso urgente. Mas uma figura. Primeiro, ela chamava todo mundo de boneca. Depois ela começou a falar que tinha contado para não sei quem que a vizinha colocou um cano na rua e alagou a casa toda dela. Que tinha uns caroços, inclusive com detalhes escatológicos. Que o pedreiro da casa dela não fez o trabalho direito porque ela não aceitou o namorar. Que tinha muitas doenças. Que não era louca, apesar de me fazer incluir no sistema uma declaração do psiquiatra que afirmava o exato inverso. 

E, depois de muita conversa, revelou, na verdade, ela precisava de remédio. Nesse momento ela abre a bolsa e, juro, nunca vi tanto remédio nessa minha vida. Olhe que eu tenho uma avó que é conhecida por tomar uma quantidade grande. Mas o que aquela mulher tirou da bolsa foi o dobro, se não o triplo da quantidade que sempre vi na caixinha de remédios da minha avó.

Mas o que realmente me chamou  a atenção foi quando eu descobri a idade dela. Um ano mais nova que meu pai. Bicho. Ela somente parecia ter uns 20 anos a mais que ele. Tanto que no início do atendimento eu tinha escrito na narrativa que a senhora era uma idosa. Vergonha.

Depois de muito me agradecer por tê-la ouvido. Comecei a digitar as informações dos documentos. E a Dona Maria começou a conversar com ela mesma, muito animada. Com ela mesma mesmo. Ria, perguntava e respondia a si mesmo.

No fim, eu realmente não sei qual era o meu objetivo em escrever isso aqui. Talvez porque eu estou numa daquelas noites tagarelas, ouvindo The National demais, e não tem ninguém para conversar comigo. No fim, me encontrei com o mesmo problema da senhorinha dos caroços. Falando sozinha.